sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Entrevista com Regis Alvim Junot

O nosso entrevistado é graduado em "Tecnologia de Produção Audiovisual" pela Universidade Paulista. Pós-graduando em "Produção para TV Digital" pela Universidade Metodista de São Paulo. Desde 1986 atua na área de produção audiovisual, como diretor de fotografia e cinegrafista. Participou da produção de centenas de vídeos publicitários e institucionais. Desde 1997 trabalha com mídias digitais, desenvolvendo soluções de comunicação interativa em CD-ROM, DVD e quiosque de toque na tela. Também ministra treinamentos, consultorias e palestras sobre produção audiovisual, multimídia interativa e TV digital. Faz parte do corpo docente da Universidade Metodista de São Paulo, onde leciona nos cursos superiores de Rádio e TV e de Mídias Digitais. Participa do grupo de pesquisa temático "TV Digital Interativa" do COMTEC - Comunicação e Tecnologias Digitais.




Produção Interativa: Quais as suas expectativas quanto a esse novo mercado?
Regis: Uma nova forma de assistir TV está surgindo, onde o telespectador poderá ter uma postura mais ativa, tornando-se um teleusuário, utilizando o controle remoto para realizar coisas que, atualmente, são possíveis somente em DVD´s, CD-ROM´s e na Internet. Considerando a natureza curiosa e a cultura televisiva do povo brasileiro, uma TV digital com recursos interativos interessantes e criativos, poderá fazer muito sucesso. O advento da TV digital será também uma grande oportunidade para a criação de novos conteúdos e programas interativos, ampliando o leque de opções em entretenimento, informação, cultura e educação e, com isso, gerar mais postos de trabalho nas áreas de comunicação, artes, produção audiovisual e desenvolvimento de software.



PI: Os profissionais estão preparados?
Regis: A grande maioria não. A mão-de-obra especializada para criar e produzir conteúdo interativo para TV ainda é escassa. Temos apenas alguns especialistas que participaram do processo de pesquisa e desenvolvimento do SBTVD-T, alguns profissionais que trabalham em empresas de TV por assinatura (Sky e Net Digital) e alguns desenvolvedores que dominam o Ginga-Java e o Ginga-NCL (plataformas para interatividade).




PI: A TV digital está prevista para chegar no dia 2 em SP. Você acha que demora muito para os clientes se interessarem em fazer campanhas interativas pra TV? Sabemos que isso vai depender da venda de aparelhos, ou melhor, de quantas pessoas vão ter acesso à essa interatividade. Mas, mesmo assim, você não acha que pode ter uma resistência por parte das marcas e dos telespectadores também? Resistência ao modelo, às novas linguagens, ao gasto x retorno?
Regis: Creio que a demora poderá ocorrer em função da falta de divulgação das possibilidades e da indefinição das emissoras na criação de um modelo de negócio para TV interativa. A resistência ao novo modelo e às novas linguagens será maior nas pessoas com mais idade e com menos instrução. Os jovens e adultos que hoje consomem DVD´s e Internet não terão grandes resistências. Para estes, os pontos-chave serão a qualidade e a relevância do conteúdo interativo.



PI: O prazo para a TV se digitaliza completamente é de aproximadamente 10 anos aproximadamente, e a gente sabe que a maioria da população vai demorar muito para comprar os aparelhos, isso vai fazer com que as primeiras propagandas interativas sejam bem segmentadas, não?
Regis: Duvido que a transição total ocorra até 2016. A TV Digital enfrentará os mesmos problemas que qualquer tecnologia nova enfrenta. No início, as classes A e B compram e com o tempo os preços caem e as classes mais baixas compram também. Foi assim com TV a cores, DVD e celular. Creio que teremos dois tipos de publicidade: a segmentada (com produtos e serviços direcionados para públicos específicos) e o varejão (programas de televendas para um público mais amplo). Nas emissoras comerciais de menor porte o varejão poderá ser o carro-chefe, pois com a codificação de vídeo MPEG-4, um canal de TV poderá se transformar em até oito canais simultâneos (multiprogramação). E haja conteúdo pra rechear esses canais!



PI: "As informações poderão ser compostas por conteúdo de multimídia interativa como vídeos adicionais, computação gráfica, animações, imagens, ilustrações, textos descritivos, entre outros elementos. Através da navegação por menus na tela, utilizando o controle remoto da TV digital." Há algum indicativo de tendência ou pesquisa para saber o que agrada mais ao telespectador? E as marcas, o que preferem?
Regis: Atualmente, isso é objeto de estudo na Pós-Graduação em TV Digital na Universidade Metodista, mas ainda é incipiente. No decorrer de 2008 teremos algo mais concreto para debater.



PI: Você acha que o merchandising vai aumentar e, conseqüentemente se "sofisticar"?
Regis: É grande a possibilidade que isso aconteça. A rejeição à publicidade convencional é crescente e o mercado publicitário precisará rever conceitos e paradigmas. A tecnologia permitirá, por exemplo, ter cenas de novelas com automóveis, eletrodomésticos e celulares, onde cada objeto seria um hiperlink de merchandising interativo. Quando um desses objetos estiver em cena, o teleusuário apertaria um botão no controle remoto e teria acesso a informações sobre o produto e ainda poderia fazer a compra via TV.



PI: Será que as peças televisivas vão migrar realmente para a internet?
Regis: Sim, para Internet e para dispositivos móveis e portáteis. Muitos conteúdos audiovisuais interativos serão criados para estes dispositivos. E em breve teremos modelos de celulares capazes de receber o sinal de TV digital. Prevejo uma verdadeira "febre" de consumo desses dispositivos e conteúdos nos próximos anos.



PI:E quanto a cultura do pular comercial. Isso vai se disseminar rápido - por exemplo, quando o controle remoto chegou se acreditava muito nisso? Esse seria só mais um mito, uma previsão que falhou?
Regis: Isso é um mito. A publicidade sustenta toda a estrutura das TV´s comerciais abertas e certamente existirão formas de impedir o telespectador de pular os comerciais na TV digital. Veja o caso dos DVD´s por exemplo, onde geralmente somos obrigados a ver traillers e vinhetas antes dos filmes. A TV digital necessitará de algo parecido.



PI: É interessante o uso de elementos digitais durante a programação? Como a criação de elementos cenográficos dentro de uma telenovela de acordo com o perfil do telespectador?
Regis: Assim como podemos personalizar a tela do nosso computador, a tecnologia da TV digital poderá permitir a personalização do conteúdo televisivo. O canal MTV (Music Television) parece ser o mais viável para esse tipo de inovação que, se fizer sucesso, poderá ser imitada por outras emissoras.



PI: Em países que já têm TV digital, o uso desses gravadores de programação é constante e o modelo de 30" está sendo substituído. Comerciais menores - de cerca de 10” - colados aos programas tentem a não serem pulados para evitar que se perca um pouco do programa. Você acha que isso pega aqui no Brasil??
Regis: Na TV analógica aberta, vários programas de TV, principalmente os esportivos, usam essa estratégia há tempos. Se o programa for bom, todos os videos publicitários serão vistos pela maioria dos telespectadores. E na TV digital, os recursos interativos serão agregados a estes vídeos. Aqui os pontos-chave serão, novamente, a qualidade e a relevância do conteúdo interativo.



PI: Você é professor da Universidade Metodista de São Paulo. A universidade já conta com uma matéria específica de produção d e conteúdo interativo? Está em vista a mudança de grade? Ou ainda não se discute isso? Você não acha que as universidades têm um retardo em acompanhar essas inovações? Que é super importante os alunos já terem contato com isso?
Regis: Como citei anteriormente, a Metodista já oferece um curso de Pós-Graduação em "Produção para TV Interativa". Nos cursos de graduação de Mídias Digitais e de Rádio e TV ainda não existem disciplinas específicas sobre conteúdo interativo para TV, mas algumas turmas já tiveram contato com isso.

PRODUÇÃO DE CONTEÚDO INTERATIVO

A TV digital aberta está prevista para ter início no Brasil no próximo dia 2 de dezembro. E no que tudo indica, os profissionais de comunicação estão tão perdidos quanto a população.


Poderemos ter vídeos publicitários interativos, ou seja, junto com o fluxo de vídeo e áudio do comercial de TV, poderá ser transmitido um software contendo um aplicativo, no qual o telespectador poderá obter informações mais detalhadas sobre o produto anunciado e, eventualmente, efetuar a compra deste, com alguns toques no controle remoto.


As pesquisas sobre publicidade na TV digital interativa estão apenas no início. Mas já existem algumas questões que merecem estudos mais aprofundados. Por exemplo, no caso de um comercial interativo com redimensionamento do vídeo, teremos o aplicativo do produto A e alguns minutos depois o vídeo do produto B, aparecendo simultaneamente na tela. E se os produtos A e B forem concorrentes diretos. Essa situação provavelmente desagradaria a ambos anunciantes, o que exigiria uma reorganização das grades de intervalos comerciais e um novo modelo de negócio das emissoras.


Conversamos com alguns publicitários para tentar descobrir quais serão os caminhos da publicidade na TV digital brasileira, mas os destaques destas entrevistas foram: “não sei”, “ é cedo ainda para falar nisso”, “ninguém sabe”, “não está definido”. Ou seja, mais do que respostas, mantivemos nossas dúvidas. A única certeza que podemos ter é que questões como modelo, aplicabilidade e segmentação, só poderão ser pensadas com mais clarezas a medida que erros e acertos forem surgindo e sendo discutidos pela sociedade.


O que podemos apresentar aqui são tendências em que acreditam esses profissionais e das quais, recentemente, alguns poucos pesquisadores fizeram objeto de estudo. Ricardo Benetton, diretor do CPqD (Cento de Pesquisa e Desenvolvimento) analisa em “TV digital como instrumento de inclusão social” (2006. Martins, Ricardo Benetton) fatores que podem dificultar a difusão da TV digital. Segundo a figura a baixo, podemos considerar que as dimensões do Brasil, a desigualdade da distribuição de renda, os números elevados de não usuários de computadores e internet, agregados ao baixo indice de escolaridade da população coontribuem para a consolidadeção destas barreiras: disponibilidade de acesso; inteligibilidade; usabilidade e acessibilidade.



A disponibilidade de acesso depende da capilaridade (lê-se: muitos aparelhos de TV digital instalados – em cerca de 90% dos lares), cobertura de cerca de 100% e do uso eficiente do espectro. Assim, um terço da disponibilidade está associado ao usuário (sua pré-disposição em adquirir o aparelho) e dois terços estão relacionados ao serviço, distribuição e modelo adotado pelas emissoras.


Quanto à usabilidade é interessante perceber que TV digital não é PC, mas considerando as possibilidades de serviços, o controle remoto agregará funções que sofisticarão seu uso. A leitura que a sociedade faz da TV se transformará. Termos como interatividade, navegação e não-linear serão comuns em nosso vocabulário diário. A usabilidade requer adaptação a esses novos modelos e linguagens. Faz-se necessário a diminuição das resistências psicológicas. Precisa ser inteligível para ser acessível. Para tanto, a população precisa ser alfabetizada digitalmente. Isso demonstra uma tendência à segmentação da propaganda interativa.


Considerando esses fatores, podemos deduzir porque os profissionais de publicidade ainda não estão se preparando. Todo esse processo de inclusão digital demandará gastos e tempo. Esperar que o quadro brasileiro em relação à TV digital se defina um pouco mais, a fim de se prepararem na direção correta é uma atitude cautelosa que visa impedir desperdícios financeiros.


Muitos profissionais apontam que com os gravadores a maioria dos usuários irá pular os comerciais, assim não haverá interesse em produzir para TV. Pelo menos, não no modelo de intervalos, com comerciais de 30”.



Confira o que os entrevistados pensam:




Entrevistas com os professores Ney Costa e João Renha










Exemplo de inserção de marca durante um programa

INTERATIVIDADE

A televisão interativa é uma forma de televisão onde a participação do usuário pode afetar diretamente o conteúdo que já se encontra disponível ou será transmitido. Ela possibilita três tipos de interatividade: local, com canal de retorno não-dedicado, e com canal de retorno dedicado.




  • Interatividade Local - O Conteúdo é transmitido unilateralmente para o receptor de uma só vez. A partir daí, o usuário pode interagir livremente com os dados que ficam armazenados no seu receptor. Um novo fluxo de dados ocorre apenas quando é solicitada uma atualização ou uma nova área do serviço é acessada.

  • Interatividade com Canal de Retorno Não-Dedicado - A interatividade é estabelecida a partir da troca de informações por uma rede à parte do sistema de televisão, como uma linha telefônica. O recebimento das informações ocorre via ar, mas o retorno à central de transmissão se dá pelo telefone.

  • Interatividade com Canal de Retorno Dedicado - Com a expansão das redes de banda larga, pode ser desenvolvido um meio específico para operar como canal de retorno. Para isso, o usuário da TV digital necessitaria não apenas de antenas receptoras, mas também de antenas transmissoras, e o sistema, a capacidade de transportar os sinais até a central de transmissão.


  • A interatividade, confirmada oficialmente pelo Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, vai demandar novos recursos audiovisuais e novas linguagens televisivas. Um novo arcabouço tecnológico será introduzido nos processos de produção do conteúdo da TV, o que demanda novos profissionais, com perfis multidisciplinares e com visão sistêmica dessa nova tecnologia.



    Os novos programas interativos são majoritariamente concebidos nas emissoras de TV, responsáveis pelo conteúdo transmitido atualmente, e, muitas, vezes implementados por empresas especializadas nessa nova área. No entanto, a produção para TV digital agrega novas ferramentas e novas metodologias ainda não compreendidas pela maioria dos cursos de graduação. A TV interativa também pode ser definida como conteúdo audiovisual mais software.


TV DIGITAL

A TV analógica transmite som e imagem através de ondas eletromagnéticas. O sistema de transmissão da TV digital utiliza código binário que é a mesma linguagem utilizada por computadores. Som e imagem se tornam digitais, combinam-se uma série de dígitos (0 e 1).
A imagem produzida no sistema digital é superior ao modo analógico. Mas, para perceber isso é preciso um aparelho de alta definição. Para se ter uma idéia um monitor analógico de boa qualidade apresenta entre 480 e 525 linhas, enquanto que na televisão digital de alta definição chega-se a 1080 linhas com o padrão HDTV. O som também melhora de estério para 6 canais.O formato deve passa de 4:3 para 16:9 mais próximo do formato panorâmico.


Mas as mudanças não ficam só nisso. A linguagem binária possibilita transmissão de dados, tornando possível a interatividade.



Alguns aparelhos receptores/conversores poderão armazenar várias horas de programação, pois serão equipados com gravadores digitais semelhantes aos discos rígidos dos computadores. A TV digital possibilita a gravação de programas para serem vistos quando o usuário desejar, pode-se até escolher quando a gravação deve começar e quando deve parar.



A inauguração da TV Digital no Brasil está prevista para o dia 02 de dezembro deste ano e ocorerá somente em São Paulo em um primeiro momento. No período de transição, que dever durar dez anos, haverá transmissões analógicas e digitais simultaneamente.

APRESENTAÇÃO

Este blog foi desenvolvido como trabalho de Comunicação Audiovisual - disciplina ministrada pelo professor Márcio Nunes da PUC-Rio - por Thaís Loureiro Dias, Shaila A. Drummond de Godoy e Rubens Coelho. Aqui apresentaremos informações sobre a Produção de Conteúdo Publicitário Interativo Para TV Digital.